quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Na parede

Na parede atrás da cabeceira da cama estava meu nome, escrito com lápis preto meio apagado, ainda está lá? Perto da cabeceira da cama, da cama que tem tantas recordações, da cama que tinha nosso cheiro no lençol, da cama onde comíamos, onde bebíamos, onde ficávamos.
A cama que é sua antes de minha, mas tão nossa quanto de qualquer outra, qualquer uma que me deixaria cheia de ciúmes, cheia de tristeza e de recordações, recordações do cheiro do lençol da cama.



Pink & Cérebro

domingo, 15 de dezembro de 2013

O que se foi

Porque o teu passado me incomoda? Faço-me a mesma pergunta todos os dias, é um martírio ver tua trajetória, tuas lutas e dores, e ver que no meio disso tudo você caiu, você caiu, meu bem caiu nas mãos de quem não te amava, nas mãos de quem não te merecia, de quem nunca te quis, e eu agora passo a bola para você: “Percebes que meu sofrimento é reflexo da tua falta de maturidade pra perceber que foi usada?  E de que não basta ser usada, você ainda traz todos aqueles que te usaram para a nossa cama, para o nosso dia a dia?” Numa conversa rotineira você me fala dos teus amores e acaba comigo, me deixa no chão, me deixa sem chão.
Eu me reviro pelo avesso tentando entender, tentando aceitar, tentando engolir calado os teus “não quero discutir”, “não você não sabe a hora de parar”, abre teus olhos meu bem, porque o passado se foi, e com ele eu vou também.



Pink e Cérebro        http://contemporaneo-pec.blogspot.com.br/

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Deu!


- Dinheiro pouco, miséria muita, doutor.
- Não contribuía com nada, mas pra beber tinha.
- Queria, não dava conta, ficava brabo e me batia.
- Conselho não faltou pra se emendar.
- Ontem, podre de bêbado, quis mexer com a menina.
- Pensei: assim já é demais, só matando.
- Foi uma só, bem no cocuruto. 

Morus

Quis assim


Viveu como nasceu e agora morria, só. 

Morus

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

A Mosca Morta.



A moça dobrou a esquina com vontade de acasos, surpresas, ar livre, vida. Com vontade. Mas sua casa era de esquina e a esquina era seu caminho de sempre e sempre voltava para casa com vontade e sua vontade morria em casa como os dias na janela de vidro do seu quarto trancado. A moça se sentia sem ar. A moça parecia morta. A mosca morta. 



semhorasesemflores@blogspot.com


terça-feira, 11 de junho de 2013

Tristeza derradeira


          -Porque suas histórias geralmente tem um final triste? – Perguntou um leitor.
         -Sou ficcionista, mas tem que haver ao menos uma gotinha de realismo em minhas histórias... – Respondeu o escritor.


Jonatas Rubens Tavares                  O Portal


sexta-feira, 24 de maio de 2013

Tara #2

Era uma bichinha tão afetada que estava sempre indo ao fumódromo.
Não fumava, mas adorava ser fumante passiva.

Isaac Ruy

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Entre a Cruz e a Cruz.

 
 
 
Maria era forte, no entanto se achava fraca. Não segurava uma pena nas mãos, mas carregava uma cruz nas costas.

Fingia não se incomodar com o peso. Nem sempre fingia tão bem, vezenquando andava envergada. Carregou a cruz a vida toda, acabou se achando forte por isso. Instantes antes de morrer, pensou: ao menos agora vou me livrar desse peso.

Maria agora está morta e enterrada. E a cruz permanece intacta em cima do seu corpo.






quarta-feira, 27 de março de 2013

O Quê dos Quais.





- Eu queria falar, mas não sei como. Deixe-me ver... Eu... É... Não sei por onde começar... Faltam palavras... Eu... É tão difícil falar de si mesmo, não acha?... Eu... Essa subjetividade... Vou tentar... Eu...


- Você tá muito enrolado, seja mais objetivo, diga logo qual o quê dos quais, meu querido?


- Só tem um. O primeiro.



Erika Viana - Semhorasesemflores.blogspot.com.br

domingo, 24 de março de 2013

Sedento

Tinha sede de tudo, mas isto lhe fazia sofrer. Começou a chorar, mas nem isso matou sua sede.
Nasceu com dificuldade para engolir.

 Izolita Garcia

domingo, 17 de março de 2013

Tempo de Mudança.




- O último trem passa daqui a pouco. Tenho poucos minutos pra decidir se vou ou se fico. Ou talvez não. Amanhã o trem passa de novo. Tenho mais tempo pra decidir. É isso. Vou pra casa.


O que ela não sabia é que a decisão já tinha sido tomada. Esperar por amanhã foi sua decisão. Voltou para a sua casinha, tranquila, com a certeza de que amanhã seria mais fácil pegar o trem e partir, respirar novos ares, deixar para trás o mofo dos seus pulmões. Mas amanhã tardou chegar. Insônia. Náusea. Vontade de morrer. Ela queria partir e partiu.

Uma corda laçou seu pescoço e lhe caiu melhor do que aquele cordão velho que fora da sua avó. Já era tempo de mudar alguma coisa.






Erika Viana - semhorasesemflores.blogspot.com.br

sábado, 2 de março de 2013

Futuro?!
Sim, caminhava sempre em frente, caminhava a olhos vistos,
caminhava rumo ao futuro,
mas...
a vida era uma rua sem saída. E deu-se um ponto final.
(Francis Paula)

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Coração Morto.

Quando criança jamais havia quebrado os ossos e a cara. Pouco sangrou ou chorou a própria dor. Mais tarde mulher, não saberia cuidar daquilo que batia dentro de si. Era seu coração feito pedra, desacostumado a sangrar.

Camila Porto

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Promessa

Ele levou o gato para casa, mas não cuidava dele. De tanto ela pedir para o alimentar, ele começou a lhe dizer: "Quando eu morrer!". Só custou uma bala. E quando voltou com panos para limpar o chão, o gato lambia seu sangue. "Ao menos cumpriu a promessa", ela pensou.


Izolita Garcia - abortoliterario.blogspot.com.br