quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Bonsai

 No berço lhe ensinaram disciplinar a metal certas expansões. Alinhar os chinelos à beira da cama. Organizar em degradê a caixa de giz. Domar a impaciência como a força vital da árvore pelas tesouras do miniaturista.
Aos sábados visitava a manhã da Liberdade e adquiria mais um exemplar. Meticuloso, dosava-lhe gotas de água e luz. Sinfonias enchiam o quarto-e-sala e os vizinhos podiam ouvir-lhe os solilóquios à varanda na madrugada.
Bom homem. Isso indicavam os chinelos à beira da janela.

                                                                                                   camisadevento.blogspot.com

segunda-feira, 14 de julho de 2014

No travesseiro

Pensar além é difícil. Ir mais longe é quase impossível quando se é limitado espiritualmente. A gente acaba por se abraçar aos pedaços de vivência que teve e tenta elaborar nossa melhor imagem, nossa melhor máscara quando necessário, pega qualquer suspiro e torna inspiração para suportar os poucos minutos que restam de um dia cansativo e angustiante, torcendo para que o amanhã, pelo amor de qualquer deus, seja melhor do que hoje.
Trancar-se no quarto, chorar baixinho em baixo do lençol, secar as lágrimas e depois sair como se nada tivesse acontecido. Nunca haverá um outro que entenda a dor e o sofrimento que sentimos por completo, a compreensão é limitada pela racionalização dos que não sentem, dos que pensam em explicações, em justificativas, em razões. Nenhuma teoria é suficientemente clara e boa para explicar a solidão que se sente por estarmos no mundo, de sermos únicos, de não podermos compartilhar nossa individualidade, que como a palavra mesma diz é individual. Somos singulares até nas dores comuns.

http://contemporaneo-pec.blogspot.com.br/

sábado, 12 de abril de 2014

Uma tarde sua mãe foi lhe visitar. Achou que já era hora de falar das visitas noturnas do pai ao seu quarto, quando ainda criança, passadas, mas não esquecidas...
A mãe disse que já sabia.
Mostrou-lhe o caminho da porta e lhe recomentou nunca mais voltar.